Capítulo 1

Se eu te contasse o que realmente aconteceu no verão passado, tu não acreditarias: é por isso que, quando me perguntaram sobre isso, inventei tudo.

— Oh, sabes, foi a relação à distância — disse eu na minha única e exclusiva declaração aos jornais (se é que se pode chamar ao The Heather Bay Gazette “os jornais”, enfim…), quando aterrei no aeroporto de Glasgow e encontrei Scarlett Scott, a resposta das Highlands à Lois Lane, ali à minha espera, como se estivesse numa espécie de comédia romântica, só que sem a parte “romântica”. E sem muito da parte da “comédia” também, se formos honestos.

— Hollywood, as Highlands — continuei, mergulhando completamente no meu papel auto-nomeado de Lexie Amante do Lar. — São tão diferentes. E acho que senti tantas saudades de casa que não quis viver na Califórnia para sempre. Agora sai da minha frente, Scarlett, estive num avião durante 12 horas; preciso de fazer xixi.

Scarlett não acreditou em mim, naturalmente (Sobre a distância, quero dizer, não sobre a necessidade de fazer xixi. Essa parte era mesmo verdade, embora eu continue a achar que ela não devia tê-la colocado no artigo dela…), o que era justo – eu também não teria acreditado em mim. Nenhuma mulher deixa Jett Carter – Jett Carter, caramba – só porque está um pouco com saudades de casa. E como se Lexie Steele, três vezes vencedora do concurso Miss Western Highlands, e… A rapariga da escola votada como a que mais provavelmente se casaria com uma estrela de cinema, preferisse seriamente uma casa de campo bolorenta na Escócia a uma mansão em Hollywood. A sério, vá lá.

Portanto, como disse, inventei tudo. Até aquela coisa sobre a escola, porque, olha, isto é a Escócia: nem sequer temos anuários escolares aqui. Se tivéssemos, no entanto, eu definitivamente teria sido votada como a que mais provavelmente se casaria com Jett; e o conhecimento de que não o fiz, e na verdade acabei por voltar para casa para trabalhar em dois empregos sem futuro só para pagar as contas, parte-me o coração cada vez que penso nisso. É por isso que não penso nisso. E também é por isso que continuo a fingir que está tudo espetacular, para me sentir melhor.

Finge até conseguires, e tudo isso.

— Adoro isto aqui — disse eu entre dentes, durante a “entrevista” de 2 minutos que me garantiu o papel de chefe – e, de facto, única – empregada de bar no The Crown, na Rua Principal de Heather Bay. — Sabes o que dizem: podes tirar a rapariga das Highlands, mas não podes tirar as Highlands da rapariga.

— Oh, que treta — disse o Big Ian, o senhorio, que tinha começado a nossa reunião perguntando se era verdade que Jett era agora o ator mais bem pago do mundo, e se eu lhe podia emprestar cinco libras, se fosse esse o caso. — Que monte de balelas.

Depois entregou-me um avental (não sei porquê, sou empregada de bar, não cozinheira), e perguntou se eu podia começar imediatamente.

— Não queres verificar as minhas referências primeiro? — perguntei, tirando o currículo apressadamente improvisado que a minha amiga Sabine tinha descrito como “uma ótima primeira tentativa de escrita criativa” quando lho enviei na noite anterior.

— Não — disse Ian, afastando-o com um gesto. — Isto é o The Crown, Lexie. Se conseguires tirar uma imperial, consegues fazer o trabalho. Mas há uma coisa…

Ele olhou para mim ansiosamente, e o meu estômago revirou-se de súbita ansiedade. Ou possivelmente apenas dos cheiros que vinham da cozinha, era difícil dizer. A mulher de Ian, Mo, não é lá grande cozinheira.

— Podes dizer a citação? — perguntou Ian, de repente tímido. — Aquela do ‘Mime’?

— Meme — disse eu sem emoção. — É um meme, não um mime. Eu sou um meme.

— Sim. — Ian acenou com a cabeça. — Então, podes? Pago-te mais 50 pence por hora. É que, ajudaria mesmo a atrair clientes se eles achassem que poderiam conhecer a rapariga do ‘testículo de porco’. Estava a pensar que podias dizê-lo cada vez que alguém entrasse?

Ambos olhámos para as portas duplas do bar, que não se tinham aberto uma única vez no tempo em que eu estive lá. Eu podia ver o problema de Ian, para ser justa. Ao mesmo tempo, porém, eu estava bastante certa de quem era o testículo de porco murcho e apodrecido nesta situação, e não era eu.

Pela primeira vez.

— Desculpa, Ian — disse eu, levantando-me e atirando a minha mala para o ombro, como alguém que tinha tantas opções que não precisava do seu estúpido emprego, de qualquer maneira. — Mas estou a tentar afastar-me de toda essa coisa do ‘testículo de porco’. Reinventar-me, sabes?

— Justo — disse Ian, encolhendo os ombros. — Podemos ir com o ângulo da ‘Abandonada pelo Jett Carter’, se preferires. Também é bom. Definitivamente podemos trabalhar com isso.

Os meus ombros caíram em derrota. Quando eu disse que queria reinventar-me, referia-me a algo diferente de ex-namorada do Jett Carter, ou da estrela involuntária de um meme viral do TikTok que me tornou numa anti-heroína instantânea. Eu queria ser apenas Lexie: quem quer que ela viesse a ser.

Mas também precisava de um emprego. Idealmente antes do vencimento da próxima conta da eletricidade. Por isso, não parecia que tivesse muita escolha.

— Podes ficar com os 50 pence extra por hora — disse eu finalmente. — Mas ninguém menciona o Jett, e ninguém diz as palavras ‘testículo de porco’. Trato feito?

— Não posso garantir a última parte — disse Ian pensativamente. — Este é o pub habitual do Old Jimmy, sabes. Mas não acho que o Jimmy saiba sequer o que é o TikTok, por isso se ele disser isso, provavelmente não será nada pessoal. Então, sim, é um acordo.

Ele estendeu a mão, e eu apertei-a relutantemente, mesmo sabendo perfeitamente que Jimmy, o agricultor, tem a sua própria conta no TikTok. Bem, a sua ovelha Edna tem, de qualquer forma. Mas eu estava sem opções. O The Crown era o meu último recurso: e o facto de ser literalmente um bar – e com uma verdadeira vibração de ‘última oportunidade’, também – não me passou despercebido.

Comecei a trabalhar nessa tarde. Na altura em que ajudei Ian e Mo a fechar, nove horas depois, tinha-me sido perguntado sobre o meu relacionamento com a estrela de cinema mais conhecida do mundo pelo menos 52 vezes (O que era estranho, porque só tínhamos tido cerca de 6 clientes), e cada pessoa que entrou – incluindo o próprio Ian – me tinha pedido para dizer a frase que me tornou uma sensação no TikTok, pouco antes de me encontrar solteira novamente.

— Estou a gerir um pequeno bar de vinhos boutique junto à costa — disse eu à minha amiga Sabine por Facetime nessa noite. — Muito elegante. Realmente exclusivo, sabes?

— Como o Soho House? — perguntou Sabine entusiasmada.

— Pois — disse eu lentamente, pensando na pintura a desmoronar-se e no ambiente de “pub para velhos” do The Crown. — Mais ou menos assim.

— E estás a fazer isso além do trabalho na loja de peixe e batatas fritas? — perguntou Sabine, confusa. — Ou desististe desse?

— Não é uma loja de peixe e batatas fritas — disse eu, referindo-me ao The Wildcat Cafe (Slogan: ‘A Segunda Melhor Loja de Batatas Fritas das Highlands’), que é o meu outro trabalho sem futuro. — É um… um restaurante de luxo. E eu não estou a trabalhar lá, estou apenas a ajudar por um tempo. Como uma consultora, sabes? Eu trab… estou lá dois dias por semana, por isso estarei no, hum, bar de vinhos o resto do tempo. Que posso dizer? Estou muito requisitada!

— És certamente uma mulher ocupada — disse Sabine, duvidosa. Eu acenei entusiasticamente, sorrindo até me doer a boca.

Olá, sou a Lexie, e sou atriz. Não uma verdadeira, obviamente. Mas o suficiente para conseguir dar um bom espetáculo quando preciso. Como quando quero convencer a Sabine a não se preocupar comigo, por exemplo. Ou em todos os outros dias da minha vida, quando vou trabalhar e finjo que não há lugar onde preferiria estar do que atrás do balcão numa pequena cidade nas Highlands. Ou a servir Mars fritos a turistas.

Estou a viver o sonho, sem dúvida.

A questão é que, na maioria das vezes, as pessoas não querem realmente saber a verdade, de qualquer forma. Elas preferem o ato. A verdade é inconveniente, até para mim; podes culpar-me por evitá-la a todo o custo?

— Estou mesmo feliz por estares bem, Lexie — disse Sabine suavemente. — Tenho estado preocupada contigo. Mas olha para ti, a arrasares como uma chefe! Acho que voltar para casa foi mesmo a melhor coisa para ti, afinal.

— Não há lugar como a nossa casa — concordei, lançando o olhar pela pequena sala de estar, que não foi decorada desde que a minha avó ma deixou. (E graças a Deus que o fez, porque não há maneira nenhuma de eu poder pagar para viver nela – ou em qualquer outro lugar – se tivesse de pagar renda além de todas as minhas outras contas.)

A oito mil quilómetros de distância, Sabine respirou fundo, como se estivesse prestes a dizer algo que sabia que me iria chatear.

— Não é amanhã que o Jett supostamente vai…?

— É melhor eu ir, Sabine — disse eu rapidamente, interrompendo-a antes que ela pudesse realmente fazê-lo. — Tenho tanta coisa para fazer agora que voltei; mal tive tempo para respirar.

— Hum, está bem — disse ela, ainda a soar preocupada. — Tens a certeza que não queres falar sobre isso? É que, não vai ser mesmo difícil, sabendo que ele está…?

— Não me importo com o que ele está a fazer, Sabine — interrompi, levantando-me numa tentativa de parecer mais convincente. — Não é da minha conta. Provavelmente nem o verei. Honestamente, tinha-me esquecido completamente disso até tu mencionares.

Nem a Sabine ficou convencida com essa, dava para perceber. Não foi o meu melhor trabalho, para ser justa. Mas ela sabia que era melhor não discutir comigo, por isso despedimo-nos, e eu fui direto para a cama, pensar sobre a coisa em que definitivamente não estava a pensar, e como realmente ia acontecer amanhã… ou hoje, melhor dizendo, que é o que era quando acabei de não pensar sobre isso.

Isso foi ontem à noite.

Agora aqui estou eu, de volta ao The Crown, ainda determinadamente a não pensar sobre como hoje é o dia em que Jett Carter, o ex-namorado que partiu o meu coração de forma tão completa que estou espantada por ainda estar a funcionar, está a chegar à Escócia para filmar o seu novo filme.

Não, não estou a pensar nisso de todo.

Nem um bocadinho.

Assim que entro no bar, no entanto, é óbvio que todos os outros aqui estão muito a pensar nisso. E a falar sobre isso. E constantemente a perguntar-me sobre isso; o que realmente não me ajuda na minha tentativa de ganhar o Óscar de Melhor Atriz Principal pela minha performance como Ex-Namorada Desinteressada.

— Cá está ela! — diz alguém, enquanto eu tomo o meu lugar ao lado do Ian. — É a Lexie Sexy! Podemos tirar uma foto rápida contigo, Lexie? Na verdade, podes dizer aquela coisa do “testículo de porco”, para fazermos um vídeo?

Levanto uma mão para cobrir o rosto enquanto todos começam a tirar fotos sem esperar por uma resposta.

Ok, isto é intolerável. Não há maneira de eu conseguir trabalhar aqui se é assim que vai ser.

— Eu, hum, posso ter espalhado a palavra de que estarias a trabalhar aqui — diz Ian apologeticamente. — Causou bastante agitação. Acho que estão a esperar que o Jett Carter venha ver-te quando chegar.

— Bem, ele não virá — respondo bruscamente, afastando com um gesto uma mulher que está a tentar tirar uma selfie comigo ao fundo. — Já não estamos juntos. E ele não viria a um buraco como este mesmo que estivéssemos.

Ian parece magoado. Mordo o lábio, desejando não ter dito aquela última parte. Mas é verdade; Heather Bay pode ser uma espécie de armadilha para turistas, com o seu pitoresco pequeno porto e dramático cenário montanhoso, mas o The Crown é muito mais um antro “local”; não de uma forma “segredo bem guardado”, mas mais de uma forma “carpete pegajosa e um leve cheiro a vómito”.

O Jett não virá aqui.

Essa é, na verdade, uma das razões pelas quais me candidatei ao emprego.

— A culpa é dela que eles estão aqui — diz o Velho Jimmy, que está no seu lugar habitual no final do bar, com a sua ovelha de estimação Edna deitada obedientemente no chão ao lado dele, tendo recentemente sido autorizada a voltar a entrar após uma proibição de dois anos imposta pelo Ian depois de ela ter conseguido entrar na sala dos fundos e comido quinze sacos de batatas fritas. — É por causa daquele maldito homem dela e do seu filme. Três autocarros de turistas hoje, todos na esperança de o ver. Os hotéis estão a rebentar pelas costuras.

— Ele não é o meu homem — digo rigidamente, tentando soar como se não fosse grande coisa. — Por isso, dificilmente é culpa minha que ele venha para cá, Jimmy.

— É sim — insiste Jimmy, que sempre foi um estranho à lógica. — Se não o tivesses trazido aqui no ano passado, ele nunca teria visto o lugar, e nunca teria decidido filmar o seu filme nele. Então, todos estes turistas idiotas também não estariam aqui, e os nossos animais estariam seguros nos seus campos.

— Tenho de admitir que ele tem razão — diz Ian. — Hum, não que me incomode — acrescenta apressadamente, vendo a expressão no meu rosto. — Este filme é mesmo bom para o negócio. Olha para quantas pessoas extra estão no pub por causa disso.

O meu telemóvel apita ruidosamente no meu bolso, fazendo-me saltar. Olho para o ecrã, pensando, como sempre, se poderia ser uma mensagem do Jett, a dizer-me que ainda me ama e que me quer de volta.

—Imposto municipal devido amanhã — diz o lembrete que eu própria escrevi há umas semanas.

Merda. O imposto municipal. Será que o Ian me dará um adiantamento do salário para eu poder pagar?

— Não podes falar com ele e pedir-lhe para ir embora? — diz Jimmy, quando finalmente me concentro de novo. — A época dos cordeiros está a chegar. Não quero que a Edna e as outras raparigas fiquem com a cabeça virada por todas estas tolices de Hollywood.

— A Lexie e o Jett Carter já não estão juntos, Jimmy — diz a Mo, aparecendo da cozinha e referindo-se ao Jett pelo nome completo, como convém a um homem que foi nomeado para dois Óscares e é frequentemente descrito como “o ator mais sexy do planeta” — e não só por mim. — Ela já te disse isso. O Jett Carter deu-lhe um pontapé, percebes?

— Deve haver algo que ela possa fazer — diz Jimmy, olhando-me com desconfiança por baixo das suas sobrancelhas farfalhudas. — Caso contrário, para que serve ela?

Endireito-me na minha altura máxima — que não é assim tão impressionante, na verdade, dado que só tenho 1,63 m — pronta para retorquir, mas a Mo antecipa-se.

— Agora, Jimmy, sabes o que dissemos sobre ser simpático com o pessoal — diz ela com firmeza. — Foi por isso que a última rapariga se foi embora. Temos sorte que a Lexie tenha podido substituí-la com tão pouca antecedência. Ninguém mais o faria, graças a ti.

Sorrio fracamente e volto a polir os copos.

Sê simpática.

Sei que a Mo estava a falar com o Jimmy, mas as suas palavras ecoam nos meus ouvidos mesmo assim.

Tenho de ser simpática se quiser manter este emprego; e tenho de manter o emprego se quiser ser capaz de pagar a conta do imposto municipal — e da eletricidade, e do gás, e talvez começar a comer algo além de feijão com torradas todas as noites ao jantar.

Porta-te bem, Lexie. Tens de te portar bem.

Mas eu disse isso a mim mesma no ano passado também; quando fugi de Heather Bay, tentando recomeçar na Califórnia. Quando conheci o Jett.

Mas agora estou de volta ao ponto de partida: fugi de Heather Bay para L.A., e depois de L.A. de volta para Heather Bay. Em direção ao Jett, e depois para longe dele novamente. Um círculo completo. Absolutamente nenhuma mudança. Talvez nunca haja. Talvez pessoas como eu não estejam destinadas a mudar. Talvez simplesmente não possamos. Talvez haja algo tão quebrado em nós que nunca poderemos ser consertados, por mais que tentemos.

E eu tentei: tentei mesmo.

Tentei tanto ser boa, mas vê onde isso me levou? A um bar sujo e velho na cidade natal onde todos estão determinados a ver-me como a vilã, não importa o que eu faça.

As minhas mãos apertam-se em volta do copo que estou a segurar. Por um segundo, penso em atirá-lo contra a parede, vê-lo partir-se. Isso seria mau, claro… mas satisfatório.

Então, da televisão que está pendurada na parede oposta ao bar, ouço o nome do Jett novamente.

— … aterrou num aeródromo privado perto de Inverness — diz uma mulher no ecrã, que está de pé fora do que presumo ser o aeródromo, embora a cerca à sua volta seja tão alta que poderia ser qualquer lugar, na verdade. — A estrela de Hollywood está na Escócia para trabalhar no Macbeth de Justin Duval, que deve começar a ser filmado ainda este mês em locais nas Highlands.

A repórter parece que isto é a melhor coisa que já lhe aconteceu. Provavelmente é, na verdade. Deus sabe que o Jett foi a melhor coisa que já me aconteceu a mim.

E agora ele está aqui. Nas Highlands. O que significa que é impossível não pensar nisso — nele — por mais tempo. Vou ter de pensar nisso. Vou ter de pensar no que direi se me cruzar com ele: o que não é particularmente provável, suponho. Ele é uma estrela de cinema da lista A. Eu sou uma empregada de bar. E, ok, é exatamente assim que as coisas eram da primeira vez que me cruzei com ele, mas isso não significa que vai acontecer de novo, pois não? Um raio não cai duas vezes no mesmo sítio; e o amor verdadeiro também não — se é que foi isso. O que aconteceu entre mim e o Jett foi único; um daqueles momentos irrepetíveis, que ninguém acreditaria, nos quais pensas o resto da tua vida. Arrependendo-te. Revivendo. Desejando que pudesses tê-lo de volta, nem que fosse por um segundo.

Mas agora acabou. Terminou. E o facto de o Jett estar no mesmo continente que eu — talvez até na mesma aldeia, dependendo de onde ele estiver hospedado — não vai mudar isso.

Realmente não vai.

Estou a dizer isso para me convencer tanto quanto a qualquer outra pessoa, entendes, porque tenho de acreditar nisso. Não posso deixar-me pensar que há a mínima hipótese de o Jett e eu voltarmos a ficar juntos. Porque não há. E quando olho de novo para o ecrã da televisão no canto, esse facto é confirmado.

— Com ele — diz a repórter, parecendo que está prestes a chorar de excitação — está a sua alegada namorada Violet King, que interpretará Lady Macbeth, ao lado do Jett.

A sua imagem sorridente desaparece e é substituída por fotos do Jett e da Violet, que foram colocadas lado a lado de uma forma que sugere que eles poderiam ter estado juntos quando as fotos foram tiradas, embora eu saiba que não foi o caso… Porque, numa das fotos, posso ver a minha própria mão no braço dele, o resto do meu corpo tendo sido cortado da imagem, como se nunca tivesse existido.

Ai.

O Jett e a Violet definitivamente não estavam juntos quando essa foto foi tirada. Estão juntos agora, no entanto, se acreditarmos nesta reportagem; e não é A Gazeta de Heather Bay desta vez, por isso não vejo nenhuma razão para que não seja verdade.

Jett e Violet, protagonizando marido e mulher num filme. Chegando juntos num avião privado. Trabalhando juntos todos os dias. De perto. Muito de perto, na verdade: eu é que sei — já vi o guião.

Pensei que eu e o Jett terminarmos fosse a pior coisa que me pudesse acontecer. E de certa forma, quase me confortava esse conhecimento, porque se a pior coisa que podia acontecer já tinha acontecido, isso significava que nada mais podia magoar-me, certo?

Mas estava errada.

Afinal, a pior coisa que me podia acontecer é o Jett voltar para a sua ex-namorada linda e famosa: aquela que todos pensavam ser o amor da sua vida, até eu aparecer.

Essa é a verdadeira pior coisa que podia acontecer.

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